COGITO ERGO SUM

Sou uma pluralidade secular constante,
Ao poder olhar, ver, falar,
Expresso toda a variedade presente,
De demonstrações coerentes, de algo que não se fez.

Sou uma singularidade no sentimento,
Pois exclusivo torno meu sentir,
Quando nem ao menos deixa existir,
Outra forma livre ou presa de pensamento
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com

VERBALÓIDE

A roda roda,
Rodando roda,
Roda rodando,
Círculo chato,
Círculo vicioso,
Ignóbil,
Não expande seu conhecimento
Repete apenas o que lhe disseram
Papagaio,
Tens uma opinião,
Será opinião?
Tens uma impressão,
Muito semelhante a opinião,
Da última pessoa que viu, ouviu e repetiu.

LONGE DEMAIS

TRAGO DENTRO DE MIM O SABOR AMARGO DE UMA VIDA DE EXAGEROS,
AS MARCAS QUE HOJE TENHO, SÃO DE PEIXES BUSCADOS NUM MAR SECO,
ESCAMAS TIRADAS DE UM PORTO, ONDE NÃO SE VENDEM SARDINHAS.
PENSO NA CARREIRA QUE CRIEI, E EM TUDO AQUILO QUE FIZ POR MERECER.
CARREGO UM CORAÇÃO CICATRIZADO, VEIAS ABRAÇADAS NUM TOM FATAL,
MÃOS TRÊMULAS QUE NÃO CONSEGUEM SE FIRMAR, DEDOS QUE TREMEM.
ESPERO AGORA O JULGAMENTO. JULGAMENTO DE MEUS ATOS,
JULGAMENTO DO MEU EU. QUERO AINDA OUVIR A SENTENÇA FINAL.
NAQUELE DIA, CUJA HORA NÃO SEI, IREI RELEMBRAR AS AÇÕES,
MEUS ERROS SE TORNARÃO VIVOS, COMO A PURA CONDENAÇÃO.
ESQUECEREI ENTÃO MEU CANUDO, ABANDONAREI MEU DINHEIRO, FICAREI MUDO.
PAGAREI PELAS CRENÇAS QUE TIVE, ACHAREI AS MENTIRAS QUE DEFENDI.
E NESSE DESCANSAR DA TARDE QUE ANUNCIA A NOITE, ESTAREI SÓ.
VOCÊ ME DEIXOU SOZINHO, E ASSIM FIQUEI TRISTE, CHOREI À PENA MORTA.
DEMOREI PARA JUNTAR AS MIGALHAS DO PÃO QUE COMEMOS PELA MANHÃ.
FECHEI A PORTA DA GAIOLA EM QUE PRENDEMOS NOSSOS PARDAIS.
Mais poesias em www.profche.blogspot.com

TROVADOR DE ESTRELAS

A música é minha companheira,
Quando avanço na pegada do asfalto a noite inteira,
Posso estar certo no andar,
Mas não em correr dessa maneira.

Quando penso em notas, elas se abrem pra mim.
Mas como estar presente quando soar o clarim?
Não vou perceber, nem ao menos notar,
Que o som é ensurdecedor e eu quero cantar.

Uma canção que fale de amor, e de como me sinto só.
Não sei qual escala seguir!
Não vejo o sol que estava lá.
Procuro uma porta para sair,
Mas não quero que tenham dó.

Se fosse fácil, talvez não seria certo.
Se fosse humano seria talvez desonesto.
E a sinceridade ficou perdida numa partitura medieval.
E a vergonha escondida num samba de carnaval.

Vou gritar para dizer que não me sinto bem.
Que o quarto está escuro e a luz não quer acender.
Vou dizer o quando eu quero, apenas meu bem querer.
E se a música não me ressuscitar, vou me calar no além.
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com

A PIRÂMIDE DA ESTUPIDEZ

Eu vou me casar, mas não quero ter filhos doentes,
Eu sei esperar, pra dar comida aos meus descendentes,
Bomba nuclear pra levar daqui nossos adolescentes,
Que esperam por um novo dia para brincar.

Comemorar a ignorância que aperta o gatilho sem clemência
Destruindo toda a resistência, daqueles que querem paz.
Não importa que eu acorde sem destino,
Não me resta mais nada de menino.
As meninas não brincam de soldados, mas os soldados brincam de meninas.

Na ignorância de esperar,
O momento de atacar,
Com a fumaça que anuncia uma ataque nuclear.

O senhor nos chamou!
Chamou os nossos pequenos.
E assim os criou!
Comendo desse veneno.
O Sonho acabou!
Quando eu vi cair o primeiro soldado tombado pela violência,
Como um robô em abstinência, precisando de óleo para rodar.

Ordens de quem eu vou seguir para fugir daqui?
Só pode ser do terno aconchegado bem ali.
Que não faz porra nenhuma para mudar.
A ilusão de ver homens voltando para seu lar!
IRA QUE EU Acho irá lhe matar.
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com

PARA TROUXAS

P
PÔ!
POR?
PORCARIA!
PORCA, RIA QUE SEUS DENTES SÃO ULTRAJANTES.
MUITOS SE PERDERAM NA LAVAGEM DE COMIDA,
NA SUA LAVAGEM DE MOEDAS!
SORRIA PORCA!
PARA AQUELES QUE SUSTENTAM SEUS PRANTOS SALGADOS,
E PARA AQUELES QUE NAVEGAM NOS CRUZEIROS REAIS
QUE VOCÊ AJUDOU A ROUBAR!
SORRIA PORCA! MAS SAIBA QUE AGUARDAMOS SEU PERNIL.
E QUANDO NÃO FORMOS MAIS BANGUELAS,
SABERÁS ONDE É SEU FIM.
P
PÔ!
POR?
PORCA!
PORCA POLÍTICA!
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com

ANTROPOFAGIA

Nossas mãos lavadas pelo sangue que brotou da terra
Clamam por socorro na rua vazia, dentro da capela,
Assistidas por arcanjos, anjos, santos e velas
Que nada pedem, que nada vivem, apenas esperam pelos passos firmes
Do salvador purificado, do querubim regenerado, guardado em silêncio,
Mudo calado, aberto para o sonho e para a vida fechado,
Olhando as manhãs purificadas pelo incenso da procissão,
Desce a ladeira, levando a espinheira, mantendo-se entre o sim e o não,
Nos passos fiéis, repletos de fé e ardente fervor,
Brotando as lágrimas da emoção do zelo e do ardor.

Quantos peregrinos almejam sua salvação?
Culpados, clamam por absolvição.
Quantos aflitos cambaleantes, temerosos, suplicantes buscam o perdão?
O gemido tímido e calado dos cantos celestiais, esses sim,
Destrincham nossa alma, expõem nossos ossos, nossas dores e instintos animais.
Mas o peregrino segue sua jornada, perdendo tudo, mantendo-se na estrada,
A única companheira sua, rua, crua inveterada.
Resguardada de seus prantos, preservada de seus temores, desnuda de suas flores.

Nos becos de carne vermelha, onde a feiticeira, a bruxa, a vidente
Levanta na voz ausente, e prescreve a doutrina decente para a alma boa que quer partir.
Nos levantes constantes do sol de verão, nas montanhas cobertas da estação,
Em brados abertos de uma canção, a vida segue, a água busca seu mar,
A hiena busca o cadáver, o albatroz tenta voar.
O que se consegue é apenas uma íntima relação com a fé,
Numa cerimônia que tudo parece deixar.
Que a todos concede a prerrogativa de santo, santificar,
Por mais que isso pareça estranho, não será nem perda nem ganho a tentativa modificar.

Parece ignóbil, ignorância tardia em desaparecer,
Tantas luzes acesas para que as bênçãos possam aparecer, envelhecer,
Tenta rejuvenescer, alma velha e cansada, pela vida triturada, torturada, mas
Que hesita com suas forças extintas emudecer.
Traz consigo um coração cicatrizado, uma dor desajuizada e as marcas de um sonho que foi bom.
Lembra através disso de sua estrada da fé, onde nunca voou e sempre foi à pé,
Buscando serenamente a fonte das águas intelectuais, para beber de suas gotas numa forma que não há mais.
Tentou viver o dia, passou todo o verão, tentou guardar a bacia, se perdeu no ribeirão,
E por tudo o que fez, se lembra que nada foi bom, nada foi mal
Suas cicatrizes hoje, apenas o fazem lembrar que seu passado foi real.
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com

ADEUS POETA

Adeus poeta!
Seu sangue corre pelas valas do senso comum;
Adeus poeta!
Você deixou seu tempo fugir em vão,
Quando como um animal faminto, corria atrás das métricas e rimas.
Adeus poeta!
Que nesse desencontro todo perdeu o seu criar;
E no solto desejo de abandonou sua arte de sonhar.
Adeus poeta!
Despediu-se, quando julgou a poesia com limites humanos,
Tentando assim transformar em mortal, aquilo que é divino,
O mundo não se lembrará do poeta prático, dogmático,
Mas daquele que com os olhos ardentes da alma enxergava cada suspiro de sentimento,
E procurava na sua forma livre, demonstrar o que mais alívio lhe trazia.
Adeus poeta!
O tempo lhe dirá, as letras lhe dirão, as linhas gritarão,
Pois chegará neste instante o momento de dizer tudo aquilo que contido esteve,
E que finalmente ganha a forma de fino ouro e puro metal.
MAIS POESIAS EM www.profche.blogspot.com