O PASSAGEIRO COM FUNÇÕES CELESTIAIS

Não diga que não te amei,
Só porque não chorei na tua despedida.
O silêncio foi uma maneira de expressar a dor,
E os olhos secos contrastavam com alma que pranteava sem parar.

As lástimas se deram pelo que não foi,
A dor da perda por algo que não aconteceu.
As tentativas além de frustradas foram destruídas,
Pela vontade de te entregares a solidão.

Não diga que não te amei,
Quando com rispidez abordava teu comportamento,
Foi uma maneira que meu corpo encontrou para aceitar,
Que as vezes o protegido deve proteger na tentativa de ensinar.

Amei-te a cada instante inesperado, quando sozinho aguardava o teu chegar.
Amei-te como um herói rebelado quando ouvia os passos de teu caminhar.
Amei-te pelo que conhecia de ti, e pelo que ouvia sobre ti.
Deleitava-me ao perceber que meu herói florescia na manhã e estava por aparecer.

Agora quando acordo, ancorado em esperanças de um futuro bom,
Percebo que não me verás sendo aquele que planejamos ser.
Sinto que ao partires deixaste aqui um ser em desalento,
E marcas para sempre os sonhos e a vida de teu rebento.

Recordo-me nessa hora, da noite em que te ouvi,
Nos conselhos brandos e intensos de alguém que busca ser útil por aqui,
Mas de que adiantava meus ouvidos servirem como amparo de tua voz,
Se tu não fazias o mesmo quando eu contigo estava a sós?

Volto ainda mais no tempo, quando as telhas deram o nosso sentar,
E me aconselhastes de maneira dura, mas repleta de amor ímpar,
Ali percebi que era crua a vida de sonhos meus,
E as ilusões poderiam levar ao inferno mas não contemplariam os céus.

Não diga que não te amo quando procuro te esquecer,
São apenas retratos de uma natureza assintomática que hesita em emudecer.
E tenta buscar na sombra da tua história uma memória para registrar,
As gargalhadas e as piadas que não poderemos mais compartilhar.

EXPIRAR

Lá vem o vento uivante dos gélidos vales sagrados,
Das ondas quebradas em qualquer rochedo,
Onde sopra constantemente uma brisa fugaz.

Vem trazendo as cinzas do presente,
Que no passado foram fogo,
Ferido a ferro, resistindo forte aos berros,
Mas apagado pelo vento que o matou.

Passou forte e durou pouco, mas as casas caíram
E a chuva inundou meus lábios, e molhou minha mão.

Lá em o vem o vento quente da areia solta,
Da água que não para a distância,
De onde brotam os grandes rios que finalmente deságuam no mar.

Ele vem sem demora, perto está!
Ouço sua aproximação.
Ele sopra forte e não vai parar.
Talvez até se torne uma brisa, ou uma maresia pueril.

Lá vem! Chegou outra vez.
Perdi-me na água sem saber nadar,
O farol apagado abriga os últimos barcos salva-vidas.
Esse desespero provocou meu fim.

Na auto-estrada, numa curva perigosa,
Vi escrito no céu como minha vida é confusa
E os olhos brilhantes de lá piscaram aprovando minha rebeldia,
E o carro foi rodando pela rua vazia.

Enquanto o barulho for intenso estará envolvendo cada pensamento,
Embalado pelo sopro gélido do vento uivante,
Guardado na caixa proibida, trancado com meus desejos insanos.
E curado pela sensação ilusória do meu bem estar.

A REVOLUÇÃO É INTELECTUAL PORRA!!

Bandeiras levantadas, exército em prontidão,
Armas preparadas e o sonho de fazer revolução.
Revolucionar idéias, pensamentos e costumes
Coletas de sonhos pobres enfeitados com perfumes.

Acreditei no que me disseram, mentiras pra me convencer,
Em promessas mal cumpridas tento achar força pra viver.
Já não importa o que me digam, eu não vou acreditar
Só espero que um dia possa tudo acabar.

Mataram nossos índios, os levaram a destruição
Roubaram suas terras e agora esperam seu perdão.
Tupã não tenha piedade de a todos vir buscar,
aja com maldade contra aqueles que usaram a cruz pra te matar.

Tornaram nossas filhas fruto da escravidão
Destruíram a família com poder de sedução
Não existe mais sentido na mentira de viver.
Em um povo excluído, o que é feito de você?

Levantemos as bandeiras já que a luta começou
E os gritos dos intelectuais serão a força do motor.
Matemos a injustiça, a força da ocupação,
E todo o louco que invade terras, nossos alvos serão.

Que a razão venha gritar e saia do espelho
que ninguém reconheça a insanidade do abril vermelho.
Liderado por loucos, frouxos em cartas de baralho,
Que te tudo já fizeram, apenas esqueceram de procurar trabalho

PÊNDULO

Olha o só coração, vê o seu relógio,
Mas não sabe que horas são.
Veja ainda suas veias, entradas abertas,
Uma viagem incerta, paredes feitas de ilusão.

Bate com o toque forte dos ponteiros,
Sente ainda ressaltar o seu tambor,
Não entende se vive apenas passageiro,
Ou se perdeu a linha, a isca pescador.

Aprende que o sangue por ele já passou,
Uma vez ou mais, já não sabe precisar,
Ainda que a si mesmo delegou,
Asas de passarinho sem saber voar.

Voou longe e solitário meu pequeno,
Não tive força ou vontade de impedir,
Tomou chuva, vento forte e sereno,
Viu o sol e não pode mais partir.

Voa alto coração de passarinho
Traga uma rosa para ver se bem me quer,
Não tenho medo de dormir aqui sozinho
Tenho ao meu lado o aconchego de mulher.

Alguém que bateu asas num instante e chegou
Mulher de um nome limpo, puro que não é vão,
Flores de pétalas com o cheiro de quem casou,
Isabel, mulher e esposa me diga que horas são.

MATA-ME DE AMOR

Eu vejo uma cor que me encanta em deleite paixão.
É o tom da ternura, coberto com a fúria seca da ilusão
Num corpo novo, de pele dourada e cabelos lisos.
Ainda consigo sentir o ar soturno me despindo do juízo.

Suas mãos livres tocaram apenas o que eu pude notar.
Sua boca rosa, se fez colorida, em cores que quero imaginar,
Mas não posso me deitar, sem antes dar adeus ao sonho
De uma falsa vertigem dentro da altura infinita que proponho.

Saltar, parece loucura. Pode até ser intenso, mas é louco.
Resta-me gritar à pele crua. Grito vazio a plenos pulmões, rouco.
Despi-la ainda quero, mesmo que seja apenas para ver,
Um olhar sincero, que surge mesmo quando erro, perto de você.

Quero ver a marca que o açúcar deixou em curvas.
Um doce encanto, mostrado branco, em meio a pele turva.
Suaviza a força, que explodiu em mantras sagrados,
Eterniza a escada, na busca da rota do céu estrelado.

E as alegorias de uma febre em pele de sabor,
Me dizem o quanto meu corpo ainda precisa de calor.
Eu posso nas passagens de uma paisagem sem lar
Buscar o balde, achar o poço, desenrolar a corda para sua sede matar.

A VERDADEIRA NOITE FELIZ

Você não precisou dizer nada, e mesmo assim o céu se abriu,
Seus dedos correram e com o tato de suas mãos você fez som.
Rolavam pelas claves as notas, e soava pela sala a magia.
Magia de um futuro pensado, dentro daquilo que será seu dom

De lágrimas se fez minha admiração, de olhos abertos e fatais,
Com as ondas que quebravam diante do toque de suas mãos,
Bosques que cobriam meus quinhões, que sem você seriam lamaçais
Chorei pelo sol entoado, pelo redimido, e aguardei lá a intenção.

São sete pilares que encostados se fazem mágicos,
São infinitos andares que só a emoção não tripudia
Se faz alegre, os sons que sem sua doçura seriam trágicos

Abra a alma para seu sorriso, e com o coração solte sua melodia,
Eu não consigo imaginar, ou pensar num paraíso,
Sem ouvi-la noite adentro vê-la ao raiar do dia.

JÁ É TARDE

Nas correntezas desgovernadas do rio que desce a serra,
Jogo minha saudade amarga sob um chão frio de terra.
As pedras que encontro servem de assento
Onde espero e conto a chuva cair em destempero, em desalento.
Irá encher minha caixa d´água e também meus olhos lacrimejantes.
Os dois transbordarão juntos, e aguardarão o mesmo instante.
Quererem ver o rio determinado, seguindo seu curso vazio.
Alagando o limpo descampado, chegando forte, porém tardio.
Faça gotejar agora, faça brilhar o sol,
Faça romper a aurora no canto livre do rouxinol.
Já passou longe da hora, de meu peito se encher
E ficar repleto de você.

TELA VIVA

A mão está sempre presa,
Pelos olhos que estão fechados.
Perdemos toda nossa leveza,
E os menores estão barrados.

À direita escrevi o que podia,
E o coração ficou atento.
Perdi tudo o que queria,
E me entreguei ao desalento.

Não queira prender-me os dedos,
Não queira soltar-me as mãos,
Desvendarei os seus segredos, e você os meus não.

Passe e diga que me viu,
Pare e diga onde estou.
Perdido em algum rio que você um dia me mostrou.