O POETA ESQUECIDO

Glória retomada, dos céus de imensa dor,
Sei que amar lhe desagrada, me empresta o seu calor.
No teu mar aberto infindo, faz nadar meu coração,
Seus sabores e melindres, caminhos de minha perdição.

Glória enluarada, nas ondas latentes do arpoador,
Peito aberto e desgarrado, asfixiado em seu torpor.
Nas remotas cenas de um cortejo, noites brancas de verão,
Durante o dia remanejo os versos mórbidos da canção.

Criam-se lástimas perdidas, envoltas em suor,
Em paixões e em libidos no peito de um homem só,
Amores soltos e esquecidos na escura obsessão,
Fortes alentos envolvidos em amores da estação.

Criados na retina lisa de uma pele sem visão,
Eternizados na resina transparente de uma pedra em oração,
Ali se prostraram os desatentos olhos de um sonhador, que
Talvez estejam para sempre procurando por um senhor

TINHA TUDO

Tanto tempo tardio,
Trepidando truculento
Tomando tento e
Tecendo túnicas tingidas em
Tonéis tintos.

Torrentes tempestuosas,
Trazem tudo triturado,
Tocam o tambor temperado nas
Tardes tórridas e
Temidas das touradas.

Também tentei tirar tudo que
Trazia trancado, tortura!
Tardia trazia, tortura!
Trancada tentativa, e a
Tentação tentou, tentou e tirou tudo.

LOUCURA

Ela veio devagar, mansinho,
Nem sei se podia entrar,
As portas escancaradas foram o motivo,
Que fizeram ela me conquistar.

Jamais tomou a luz do sol,
Jamais deixou alguém sofrer,
Na sua partida pela estrada reta,
É que muitos ousam se perder.

Onda ela está agora?
Para onde ela correu?
Estaria solta pelo mundo afora?
Ou presa num sentimento meu?

Pobre menina de lábios rosados,
Cabelo comprido e sentimentos soltos,
Traz em sim o coração cortado,
E o amor que sente pelos outros.

Já nem sei mais quando a vi,
Perdida numa calma desleal
Talvez ela nunca esteve aqui,
Mas eu estive no espaço sideral.

REVIVER

Estou sentindo dor,
E junto com a dor vem o desejo de não senti-la,
Até pensei que fosse um herói, mas as forças acabaram,
Há menos de um dia eles se foram e me deixaram para trás

Se eu deitasse poderia ver o além
Mas continuaria a perceber o que me incomoda,
É o espinho de minha carne,
E uma ânsia desmedida de ter os sentidos dormentes.

Não sei se o dia vai acabar logo,
Enquanto o sol estiver alto não saberei o onde estou.
Alguém imagina onde deixei meu sorriso?
Vou procurá-lo, apenas para saber que ele não é!

Você gostaria de vir comigo? Venha, que por mais dor que eu sinto
Meu coração está aberto para amá-la. Eu sei que o inverno acaba.
Venha! Vamos aproveitar o tempo e não perderemos tempo.
Meu coração está doendo de vontade de amar você outra vez.

PÁGINAS DO INFERNO

Nós estamos morrendo por causa da aversão,
Acham que no caminho estamos sem perdão.
As vezes choro e começo a correr,
Procuro outros braços, só encontro você.

O castelo está vazio, a princesa se foi.
A areia da parede está pelo chão.
O meu mundo deserto dividiu-se em dois.
Sinto a indiferença habitando no porão.
Subindo depressa tomando toda a casa,
Parece não ser a voz de um ser humano que fala.

Vem, vamos brincar!
Que no mundo só me resta esperar.
Vamos pra escola, eu quero estudar.
Vou jogar bola para poder sonhar outra vez.
E no intervalo eu quero pegar meu lanche e dividir.
Eu só quero que o tempo seja meu amigo.
Não vou brigar, pois sei que dele pouco me resta.

O descaso machuca,
A estupidez é que aponta,
O sangue vai jorrar para onde ninguém irá querer.
É um soldado em pé de guerra, querendo ir para casa,
Mas a morte o espera na trincheira que a vida preparou
Não vou querer misericórdia,
Quero somente viver em paz.

UM VELHO TEMPLÁRIO

Você dormiu em meus braços,
E eu naveguei em seu barco.
Você saudou o frio,
E eu lhe dei calor.
Você me prendeu!
E eu sorri sob o monte.
A sua força é audaz, e sua vontade também.
Quando senti o que queríamos,
É que pude me sentir bem.

Você acordou em meus braços,
E um beijo eu lhe dei.
Sua boca com a minha,
E seus olhos procuravam os meus.
No escuro que se mantinha, um presente que a névoa nos deu.
Seria tarde? Seria dia?

Quando a alma está vazia, não há tempo que possa preencher.
E na magnitude do mistério que nos rodeia nós tentamos perceber,
Onde nos faltou o senso de bom senso? Como acordar para descer?
Se alto subimos e aqui estamos!
Debruçados na janela da alma,
Ouvindo um doce rock and roll, o velho que acalma.

OLHOS

Seu coração blindado será o motivo da minha perdição,
Tentar entender seus mistérios, desvendar seus sonhos,
tornou-se a ébria obsessão.
Gostaria de não estar em seus devaneios antes de dormir,
assim, saberia que sou real.
Mas não entendo sequer qual minha origem,
como entender minha realidade?
Os anos que virão são como cortina de fumaça,
Tornando-se cada vez mais intensa,
Talvez mais para sufocar do que para escurecer.
Amante do carinho, estou indo até você.
Encontre-me quando já for tarde e me traga o que é seu.
Vamos dividir tudo o que nos pertence, e tornemo-nos um em outro.
E quando já estivermos cansados e com fome,
iremos procurar algum lugar para pedirmos um pastel.
E a noite terminaria sem qualquer lembrança que devesse ser esquecida.
Mas hoje não me lembro de ontem e a existência está alienada a recordações

O MERCADOR

Compre-me e me guarde como escravo,
Tu és cravo, tu és rosa,
Tu és verso, tu és prosa,
Para que deitares assim?
Esqueça-te do medo e venhas mais perto de mim.
Quando tudo acabar, somente um anjo te dará a mão,
Talvez um anjo triste que não merecerá sorriso nem atenção.
Mas de qualquer maneira, serás sempre uma poesia,
Tenra e pura, de águas infinitas e brilho intenso.
Tu és um afresco onde se pintam as sublimes renascenças,
Tu és o perfume sentido e guardado à sombra dos parreirais,
E quanto mais penso, menos razão me dou.
Não sei o que me toma, não sei o que me come,
Não sei o que resta e nem o que me consome,
Mas sei que alguma coisa não está correta.
Tu fizeste o mal virar bem!
Tu fizeste da morte algo real!
Tu mataste comigo, e juntos vimos o mundo brilhar.
Estás entorpecendo-me a cada dia,
Estás envolvendo-me em tuas redes vazias,
E não há mais nada que eu possa fazer.