Sobre Caminhar

Não são os rótulos que nos definem,
Mas aquilo que nos é inerente e peculiar,
Nosso olhar apreciativo diante do mundo,
Nossas ações ponderadas perante a vida.
Não é o tamanho do percurso que designa
Nossa caminhada, mas a qualidade das ações
Praticadas, das intervenções, de nossa conduta
E do bom uso e aproveitamento do nosso tempo.

Não é necessário sermos rocha para suportar
As intempéries e tormentas que irrompem na vida,
Basta-nos a leveza da fé e da serenidade arraigados
Na certeza da sinceridade e honestidade mantidas.

Não são apenas os caminhos trilhados que determinam
O sucesso final da caminhada, mas também os que erramos,
Os tortuosos e até o que por algum motivo deixamos de trilhar,
Por que somos continuamente um eterno desfazer-se e refazer-se.

Virgínia Santana

O poder do ódio

Com ódio, entes devoram-se,
na busca de algo que escape às ambições mesquinhas:
Vão, afinal, chegar ao fim, que ofusca,
como almas desiguais, sempre sozinhas.

Serão, no mundo, ervas sem cor, daninhas,
raio de raiva humana, que corusca,
espada de aço em asas de andorinhas,
triste visão de tarde em queda brusca.

Passarão consumidas pelas farpas
de suas próprias ásperas palavras,
de ouvidos surdos ao soar das harpas.

Nasceram ambas para esses debates,
garimpeiras de amor em negras lavras,
sempre a viver em guerras e combates.

(Eliezer Lemos)

Vírus humanos

No momento em que tudo ficou deserto
As ruas vazias de povo e de agito
Carros empoeirando nas garagens das casas
Gritos silenciosos de pavor e angústia
Um burburinho lá fora das ambulâncias
Crianças que já não brincavam nas ruas
Fazem alvoroço nas salas de estar
Velhinhos que antes passeavam nos parques
Lotavam as praças e contavam seus causos
Já não partilham suas memórias
Os bares e lugares de encontro
São substituídos por telas e teclas
Os dígitos substituem os abraços
De repente um pane no planeta
Consegue parar o movimento das Nações
Um microscópico ser entra pelos orifícios do rosto
Misturando-se às células e corrompendo as defesas
As mães temem por seus filhos, os filhos pelos seus pais e netos por seus avós
Uma velhinha ancorada na beirada da varanda
Olha melancolicamente pro mundo
Sente a nostalgia dos tempos de verdes espaços, água limpa e cristalina e das horas que passavam devagar.
As informações de um mundo em colapso invadem as telas da TV.
Uma dificuldade de compreender a amplitude da devastação
Incrédulos buscam burlar as barreiras do medo
Negam e relutam. – Impossível! Eles dizem. Mais uma invenção humana!
Os choros das crianças trancafiadas nas células dos apartamentos se somam aos risos dos que tentam recuperar um tempo perdido.
Velhos medos daqueles antigos conhecidos desastres não naturais.
Daquelas guerras que a muitos não tocaram, mas que foram atualizadas nas páginas dos livros de histórias e documentários que passam na televisão.
Os namorados são de repente afastados por um vírus mortal. Um vírus que não tem conhecimento da dor que causa, porque também luta por sobrevivência.
De repente tudo é caos e calma.
Nos percebemos tão infinitamente pequenos vistos pelo microscópio universal.
Viralizamos um planeta inteiro, destruímos suas entranhas e, ainda temos a audácia de nos fazer de vítimas.

(Be Medeiros)

Amor de Mãe

Mãe é coisa sagrada, ta contigo pra qualquer parada. Ela vai te amar, como nunca amou ninguém .
Enquanto outros tem inveja,
ela vai ficar feliz por tí ,
por ter ido além.
Por você ela vai ta ,
sempre rezando
pra que Deus continue,
te abençoando.
Eu vou falar uma coisa ,
aqui na rinha,
Fico triste por quem,
não tem a sua,mas
sou muito grata a Deus ,
pela minha.

E vai ta te ajudando,
com tudo ao seu alcance .
Então não troque ela ,
por um lance .

Mãe você é foda,
obrigado por tudo que…
você fez por mim, até agora.

(Sabrina Oliveira)

A Vida

por um instante tudo está bem.
E em um piscar de olhos,
do hospital você é refém.
A vida é um sopro,
Então viva com intensidade.
Não queira mais escutar,
barulho de choro, E sim risos de felicidade.
Claro que todos nós,passamos dificuldade. Mas precisamos de força pra encarar, essa dura realidade.
Tudo tão corrido e você,não tem tempo,
pra se destrair

E hoje vai ser mais uma noite,em claro. Preocupado com o trabalho,e sem dormir…

(sabrina)

Fim do mundo

Antes do fim do mundo
Meu jardim ficou mudo
Murcharam-se as onze-horas*
As folhas cessaram de balançar
E o segundo Sol chegou
— Imenso!
:
Fogo e mar
Precipitando-se
Numa insólita amizade…
Ondas em silêncio
Arrastando
Invadindo
Destruindo
Engolindo cidades
— Calamidade!
:
S.O.S.
O morro virou ilha
Solenemente conquistada
Pelo doutor engravatado
O gato estressado fugiu arrepiado
[coitado]
O papagaio voou pro telhado
[encharcado]
— O Segundo sol chegou!!!
:
Não vou me afobar
Se meu telefone tocar
Sento à mesa
Tomo uma cerveja
Não quero mais explicação
Nem consternação
Quem quiser que se deprima
Pego uma onda até a esquina
Do nada
Por dois sóis
Atravessada
Curto meu derradeiro
Segundo a só
Brindo sem dó
Nem piedade
O fim da (des)humanidade
Olho na cara do povo
E pergunto:
— “O que há de novo?”

(Wanderlei Motta)