Vírus humanos

No momento em que tudo ficou deserto
As ruas vazias de povo e de agito
Carros empoeirando nas garagens das casas
Gritos silenciosos de pavor e angústia
Um burburinho lá fora das ambulâncias
Crianças que já não brincavam nas ruas
Fazem alvoroço nas salas de estar
Velhinhos que antes passeavam nos parques
Lotavam as praças e contavam seus causos
Já não partilham suas memórias
Os bares e lugares de encontro
São substituídos por telas e teclas
Os dígitos substituem os abraços
De repente um pane no planeta
Consegue parar o movimento das Nações
Um microscópico ser entra pelos orifícios do rosto
Misturando-se às células e corrompendo as defesas
As mães temem por seus filhos, os filhos pelos seus pais e netos por seus avós
Uma velhinha ancorada na beirada da varanda
Olha melancolicamente pro mundo
Sente a nostalgia dos tempos de verdes espaços, água limpa e cristalina e das horas que passavam devagar.
As informações de um mundo em colapso invadem as telas da TV.
Uma dificuldade de compreender a amplitude da devastação
Incrédulos buscam burlar as barreiras do medo
Negam e relutam. – Impossível! Eles dizem. Mais uma invenção humana!
Os choros das crianças trancafiadas nas células dos apartamentos se somam aos risos dos que tentam recuperar um tempo perdido.
Velhos medos daqueles antigos conhecidos desastres não naturais.
Daquelas guerras que a muitos não tocaram, mas que foram atualizadas nas páginas dos livros de histórias e documentários que passam na televisão.
Os namorados são de repente afastados por um vírus mortal. Um vírus que não tem conhecimento da dor que causa, porque também luta por sobrevivência.
De repente tudo é caos e calma.
Nos percebemos tão infinitamente pequenos vistos pelo microscópio universal.
Viralizamos um planeta inteiro, destruímos suas entranhas e, ainda temos a audácia de nos fazer de vítimas.

(Be Medeiros)

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