Evolução para coisas inúteis

Plantar uma árvore,
ter um filho,
fazer um livro.

deixar semente e oxigénio,
ensinar as novas vidas,
deixar o testemunho ao próximo.

Não sei se fiz um livro mas já escrevi
posso desconfiar que ate já consegui,
vou dando a minha opinião e simpatia.

Quem dá à luz é mãe.
Portanto eu serei o pai.
Importante é alguém seguir os teus passos.

As árvores que planto, no verão dão sombra
mas não tenho a certeza do rumo
que fui dando aos ramos.

Na arquitetura poética do mundo rural
nada mais é importante
que viver ainda melhor
até a árvore morrer imortal
e deixar sempre outra crescer
mas até quando se vamos todos a correr.

(Jose maria fonso)

SINO DA CAPELA

Ouvi o sino da capela a badalar.
Já são seis horas,
Já são seis horas.

Chegou a hora de rezar ave Maria
E também salve rainha
Pra nossa senhora ajudar.

A enfrentar
As barreiras dessa vida,
E agradecer pela guarida
Que oxalá nos dá.

Ouvi o sino da capela a badalar.
Já são seis horas,
Já são seis horas.

Todo dia
Pego bem cedo no batente,
Enfrento um mundo descrente,
Repleto de coisas ruins.

E ganho o pão
Com muita garra e suor,
E não tem nada melhor,
Poder voltar para o lar.

Ouvi o sino da capela a badalar.
Já são seis horas,
Já são seis horas.

Salve rainha,
Mãe de deus, nossa senhora,
Que intercede a toda hora
Por quem no mundo é pecador.

Salve oxalá
Com seu escudo e espada.
Quem me guia pela estrada
É Jesus cristo salvador.

*Marcelo Maya – Edmundo de Souza

Madrugadas

É nas madrugadas que meus sentimentos nascem e crescem,
tomam lugar.

Minhas incertezas se tornam algo concreto,
o orvalho lava as tristezas,
a leve brisa trás de longe a força das estrelas.

O cedo em conjunto com a energia da natureza compreendemos o paradoxo da vida,
a verdade do tempo,
a força do amor que liberta de tudo,
e aprendemos a verdade com o silêncio.

Os apelos distorcidos do amor chegavam embotados em meu coração,
faltava-me à razão e a compreensão,
eu era inquieto e vazio, distante da realidade.

Um novo sentimento abril meu coração,
transformando-o num verdadeiro gerador de emoção,
libertando minha alma, tudo em mim renasceu.

Estou vivo novamente!
Tenho amor! Sou puro amor!

Eliezer Lemos

Nasce uma poesia

Quando estou triste e quero lavar minhas magoas,
quando sinto um grande aperto no meu coração,
quando estou feliz e repleto de emoção.

É quando algo dentro de mim começa a germinar,
borbulhar como uma nascente no fundo do rio; não posso conter-me,
tudo acontece como um grande turbilhão em meu cérebro,
assim nascem minhas poesias!

Moinho d’água moendo em silêncio mói o que tem de moer,
e a dor dói sem parar.

Quando se ama profundamente,
todos sons que chegam aos ouvidos, e toda imagem que tocam as retinas,
os sentidos ficam mais aguçados e afinados,
tudo em nossa volta nos inspira a pura poesia.

Ah! Este verdadeiro sentimento o AMOR!

Que tem acompanhado aos anjos e alguns da humanidade.

Eliezer Lemos.

Não desejes nem sonhes

Não desejes, nem sonhes, alma incauta com a ilusão passageira,
Lembre-se sempre que a ilusão tem o encanto da sereia,
Não desejes nem sonhe com a ilusão,
Pois ela e semelhante às noites aromais de lua cheia que
Seduz e perde, em alto mar, o nauta.

Feliz daquele que os seus atos e anseios modera
Dentro dos dons da vida que o rodeia,
E acha o seu leito macio e a sua mesa farta
E vive na indiferença da fortuna e coisas alheias…

Feliz de quem, da vida para a morte,
Embora pobre, de pobreza triste,
Contenta-se, afinal, com a própria sorte.

Se há ventura no mundo, essa consiste,
Talvez, em suportar, de ânimo forte,
A renúncia de um bem que não existe.

Eliezer Lemos

Longa jornada

Venho dos vendavais distantes,
de noites que se perdem em silêncios profundos,
de invernos sem fim e curtas primaveras,
de tapetes de neve que se estendem com um brilho
e alvura que enlouquecem…

Venho das terras que se abrem com profundos ruídos,
e das casas oscilando, oscilando, oscilando!

Venho da Cordilheira dos Andes
e dos Montes Rochosos,
atravessando vales e margeando rios
cheguei às planícies e subi aos planaltos,
para depois tomar a vastidão dos mares!

Venho das secas avassaladoras do Nordeste,
sob um sol inclemente, mas de um povo tão forte,
que na terra queimada desafia a morte,
até quando o calor e a sequidão os tangem
para bem longe, bem longe…

Trago os clamores de um povo castigado
sem saber por que, nem até quando!

Venho cansado e esquecido de tudo
e passando ao teu lado, ouvirás num sussurro:
"Eu voltei afinal, aqui estou!"

Eliezer Lemos