AQUI JAZ (TALVEZ ETERNAMENTE)

Não estou mais interessado em lágrimas,
O amor é algo desonesto e desumano
E a saudade é uma mágoa que já teve mais importância,
Mas hoje passa solitária.
O machado corta a madeira que lhe concede o cabo.
E essa dor não quero mais.
E eu que acreditei poder mudar o passado!
Mas a foice cortou os últimos sândalos perfumados.
E a dor é pela escravidão.
E a dor do descaso que não fez caso de desaparecer.
E agora chegará o dia que seu nome não será lembrado.
E olha que lutamos contra as grades! Lutamos contra o desalento!
E lutamos para que a vida mantivesse a sua compaixão.
Mas a vida nada pode fazer, a não ser respeitar a escolha do destino,
Que num desatino duradouro foi escolhido.
Como ela fez um estrago!
Ainda bem que o sol que nunca brilhou é que deixou o dia.
Sempre acreditei que ele brilharia,
Mas o que ontem foi estrela, hoje pode estar gelado numa lavanderia.
Incontestável e Mórbida Lavanderia!
Mas a lua brilha forte, e ela deve eternizar a noite, que de tão intensa sempre substituiu o dia.
E o vidro quebrou o espelho;
Que sempre foi fosco, mas que eu acreditei poder um dia refletir.
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O VERDADEIRO ODISSEU

Ela está na esquina,
O destino nem ao menos lhe pertence.
Mira o infinito num desprazer absoluto.
Traz para si a indiferença de olhos que não se aproximam.
E quando o frio chegar?
Fará ela de seu colchão o aconchego nas noites invernais?

Nada lhe pertence!
O direito há muito lhe foi tomado,
Ou, trocado por algo para lhe amenizar a turbulência que rugia em seu interior.
Ela tampouco é senhora do próprio destino,
Que reluta por ter que chegar,
E contemplar a pobre mulher,
Que deixou há muito de ser donzela,
Pois nem ao menos o seu sexo lhe pertence.

É um desencontro constante,
É uma ferida aberta,
Por onde ela passará amanhã?
E que favores terá de realizar?
Somente para dar prosseguimento ao que nós chamamos de vida,
Mas que para ela é uma viagem homérica.
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UM DEMÔNIO NA CIDADE DOS ANJOS

Não sei onde estou agora,
Perdido na selva de animais,
No inferno de santidade,
Onde predadores impiedosos estão querendo me devorar.
Absorver tudo de mim,
E jogar-me sem energia num chão frio.

Venha morte, veremos se és forte!
Aguardo-te sentado à mesa.
E sairás de lá ferida sendo minha companheira.
Tu és cheia de absurdos que chamas de glória.
E um dia te disseram que eras parte da história.
E acreditaste estúpida meretriz.

Morte! Quando fores, não serei mais,
Mas enquanto eu estou tu e que ficas na estação, porto ou cais.
Aguardando o primeiro trem, iate ou navio onde possas depositar sua foice.
Podre, repleta de ignomínias e perversão.

Foi-se tarde, foi-se embora,
Não bata em minha porta,
Ou mando ao teu encontro meus animais.
Todas as hienas, todos meus chacais,
Implacáveis na arte de combater,
E ansiosos o momento de vencer-te.

Caia diante de mim! Sofra, pois quero vê-la assim.
Sua glória perdeu-se no caminho.
E agora irá seguir ansiosa por toda a estrada
E verás que não és tão aguardada
Odiada sim, e amaldiçoada também.
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PRELÚDIOS DE UMA MORTE

Vá andarilho buscar o seu destino,
Vá andarilho encerrar a sua conta,
Vá andarilho que o mundo o espera,
Mas o mundo não sabe quem é você
E aqueles que souberam hoje fazem questão de esquecer.

Vá andarilho colher os grãos de sua estupidez.
Vá andarilho deixar em alguma esquina sua lucidez.
Entre salgados e doces escolha,
Justamente o sabor que irá lhe acompanhar.
Mas não adentrará à sepultura.
Lá só entrará você estúpido solitário.

Vá andarilho já que queres ficar só
Vá andarilho juntar mais histórias para contar.
Já que julgas as histórias com maior valor do que com aquele que ousaste nos amar.
Porém, quando o silêncio se fizer,
Nós também iremos silenciar.
E o andarilho se foi.
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VIA ÁPIA

As listras de seu vestido,
Serviram como linhas para escrever meus desejos.
As pedras de suas sandálias foram os medalhões da minha vitória.

O despontar de seu sorriso,
Foi o guia para tua alma,
Ébria alma que acalma.

O som de sua voz,
Foi o torpor que me invadiu.
Tornou-me ébrio e incapaz de decidir.
Andar ou correr, não importa mais.
Desde que todos os caminhos me tragam de Roma, e me levem à você.
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ABSURDOS, SOTURNOS, NOTURNOS

Não corri, não quis correr.
Quis ver o mundo,
E vê-lo com você.
Posso estar certo em tentar,
Mas o erro é tão presente,
E eu não quero errar.

Mas como evitar sua retina,
Que mais parece uma abandonada mina?
Cheia de mistérios e tesouros ainda por desvendar.
Aguardando o mineiro experiente que sabe exatamente onde explorar.

Escuras são as noites, e abertas para todas as formas de amor.
Mas volto a dizer que tenho medo de errar, e perceber que sou mortal,
Mas sempre saberei que minha voz o mundo irá ouvir.

Esqueça dos outros, e escute somente você.
Ganhamos a vida e não temos nada a perder.
A não ser a sanidade que deixamos lá para trás.
Ao nos aventurarmos na loucura de amar.
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LONGE DEMAIS

TRAGO DENTRO DE MIM O SABOR AMARGO DE UMA VIDA DE EXAGEROS,
AS MARCAS QUE HOJE TENHO, SÃO DE PEIXES BUSCADOS NUM MAR SECO,
ESCAMAS TIRADAS DE UM PORTO, ONDE NÃO SE VENDEM SARDINHAS.
PENSO NA CARREIRA QUE CRIEI, E EM TUDO AQUILO QUE FIZ POR MERECER.
CARREGO UM CORAÇÃO CICATRIZADO, VEIAS ABRAÇADAS NUM TOM FATAL,
MÃOS TRÊMULAS QUE NÃO CONSEGUEM SE FIRMAR, DEDOS QUE TREMEM.
ESPERO AGORA O JULGAMENTO. JULGAMENTO DE MEUS ATOS,
JULGAMENTO DO MEU EU. QUERO AINDA OUVIR A SENTENÇA FINAL.
NAQUELE DIA, CUJA HORA NÃO SEI, IREI RELEMBRAR AS AÇÕES,
MEUS ERROS SE TORNARÃO VIVOS, COMO A PURA CONDENAÇÃO.
ESQUECEREI ENTÃO MEU CANUDO, ABANDONAREI MEU DINHEIRO, FICAREI MUDO.
PAGAREI PELAS CRENÇAS QUE TIVE, ACHAREI AS MENTIRAS QUE DEFENDI.
E NESSE DESCANSAR DA TARDE QUE ANUNCIA A NOITE, ESTAREI SÓ.
VOCÊ ME DEIXOU SOZINHO, E ASSIM FIQUEI TRISTE, CHOREI À PENA MORTA.
DEMOREI PARA JUNTAR AS MIGALHAS DO PÃO QUE COMEMOS PELA MANHÃ.
FECHEI A PORTA DA GAIOLA EM QUE PRENDEMOS NOSSOS PARDAIS.
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ASTRONAUTAS GENERIAS

Eu conheci meninos, simples meninos,
Eu os conheci quando eles ainda eram jovens,
Quando eles ainda sonhavam com o porvir,
Quando eles ainda exploravam a própria caverna.
Eu conheci meninos, simples meninos.
Eu os conheci quando eles imitavam artistas,
Quando eles ainda gostavam de apelidos,
Quando eles ainda respeitavam seus heróis,
Quando eles ainda tinham seus heróis.
Eu os conheci meninos, simples meninos.
Mas os meninos abençoados, viraram deuses,
Viraram anjos rebelados contra a ordem celeste,
Abraçaram sua intelectualidade pueril, gritaram,
Embruteceram-se com falsas doutrinas,
Intelectualizaram as bestas dos campos,
Destruíram as lembranças, as letras, o abraço.
Ousaram ser divindades, e não deram o tom,
Esquecendo-se que aqui, matamos deuses,
Enterramos seus corpos numa tumba fria,
Armamos soldados para guardar o corpo.
E os meninos deixaram de ser meninos.
E os meninos que conheci, não são mais,
Tive que matá-los em meus pensamentos,
Eu esqueci os meninos, simples meninos.
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