O Moço:

O moço caminhava pela vida sem destino
nos sítios e fazendas fazia o seu itinerário
na poeira da estrada lentamente ia seguindo
carregava dentro do peito a dor do seu calvário.

Além da sua cruz uma velha mala de viagem
sangrava as feridas dos seus ombros já cansados
gravado na lembrança a visão de uma imagem
acompanhava passo a passo um fantasma do passado.

Mais ébrio do que sóbrio assistia à decadência
cambaleando procurava um lugar pra se esconder
seguindo o instinto da própria consciência
o moço andarilho tentou então sobreviver.

Um fazendeiro caridoso levantou ele do chão
cuidou dos ferimentos,estendeu um braço amigo
não perguntou nada nem pediu explicação
ofereceu trabalho e na fazenda deu abrigo.

Faltava experiência mas não faltava boa vontade
com o tempo aprendeu todo serviço dos peão
levantava bem cedo,trabalhava até bem tarde
quiz mostrar ao fazendeiro a sua gratidão.

O tempo foi passando e num domingo ensolarado
comemorava na fazenda com muita festa e alegria
um churrasco com rodeio pra alegrar os convidados
no aniversário da Lurdinha,oito anos ela fazia.

Tudo era alegria e no auge da festança
os peão se divertia na euforia do rodeio
sempre risonha brincava com outras crianças
a Lurdinha toda faceira com seu vestido vermelho.

Batia com força na peteca,berando a cerca do curral
uma vaca de cria nova veio correndo,desembestada
o vestido vermelho da Lurdinha era o alvo do animal.

Uma certeira cabeçada atingiu o peito da criança
foi jogada nas alturas,caiu por terra desmaiada
estava morrendo e ninguém mais tinha esperança
naquele lugar distante não se podia fazer quase nada.

Mas o moço andarilho pegou ela nos braços
ficou muito preocupado com a gravidade da lesão
o fazendeiro assustado seguiu os seus passos
mais atrás vinha o restante dos convidados e dos peão.

Sem perda de tempo deitou ela na cama
pediu água fervendo e pano limpo de enfermagem
fez uma prece confiante e manteve acesa a chama
com as mãos já calejadas abriu a velha mala de viagem.

Tirou de uma valise preta ferramentas de cirurgião
apareceu em sua mente lembranças do passado
ao dar à luz morreu um dia em suas mãos
sua mulher querida e seu filho amado.

Agitou com força a cabeça,voltou de nova à realidade
sem vacilar começou uma arriscada cirurgia
com mãos seguras mostrou a sua capacidade
a vida da Lurdinha somente dele dependia.

Conseguiu trazer de volta a vida da menina
mas pediu ao fazendeiro levar ela ao hospital
e dar prosseguimento no trabalho da Medicina
para ela ter no futuro uma vida sadia e normal.

Os médicos admirados da perícia e habilidade
das mãos que manejaram com destreza o bisturi
uma cirurgia difícil,de alta responsabilidade
somente com muito estudo poderia se conseguir.

Já de volta o fazendeiro procurou o salvador
pra beijar as suas mãos e agradecer sua coragem
mas o quarto vazio com tristeza encontrou
o moço foi-se embora com sua velha mala de viagem.

Carregando a sua cruz se embrenhou pelo sertão
guardou em sua memória um sorriso de criança
na poeira do caminho se perdeu na imensidão
a visão de uma imagem marcada na lembrança.

O tempo transforma tudo,Lurdinha em moça se transformou
e até hoje ela procura por toda perte do sertão
um moço andarilho que um dia por sua vida passou
e deixou uma cicatriz marcada em cima do seu coração.

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