Pródigo I

Eis o enigma da salvação, o segredo da alma
O mistério do perdão,
porque o justo padece até privação de pão,
enquanto o ímpio se alegra
Levando a vida sem regra, na sua dissolução
Numa família de bem, pais e filhos trabalhando
Ano vai e ano vem e os filhos se formando
Quando os pensamentos vêm, faz do mais moço refém
Começam lhe torturando
Sou dono do meu nariz, tenho parte na fazenda
Vou ser um homem feliz, muito longe desta tenda
Vou partir deste lugar, estou farto de trabalhar
Espero que o pai me entenda
Papai me escute agora, disse o moço a seu pai
Trabalhei até agora e já não agüento mais
Me dê a minha herança, porque eu não sou criança
E já passo de um rapaz
O velho pai pesaroso, deixou as lágrimas rolar
Pois sonhando com o gozo, que a vida ia lhe dar
O seu filho não iria, ponderar naquele dia
As voltas que o mundo dá
Deixou o filho partir, com a herança na mão
Porém ficou sem dormir, de tanta preocupação
O meu filho foi embora o que será de mim agora
Feriste meu coração
Enquanto isso o rapaz, já em terra bem distante
Começou sonhar de mais, gastando com as amantes
Batia com a mão no peito, desfruto do meu direito
Diria para as amantes
Muitos dias se passaram, vivendo na regalia
Muitas mulheres andaram, sob sua companhia
Os dias iam passando, o dinheiro se acabando
E ele não percebia
Foi de repente que viu, sua ruína chegar
Quando ele descobriu, que tinha que trabalhar
Já era tarde demais, era um pobre rapaz
Aos porcos apascentar
Quando disse não agüento, a fome vai me matar
Falta água e alimento e ninguém tem para me dar
Enquanto os porcos comiam, bolotas seus olhos viam
Desejou se alimentar
Lembrou do que tinha feito, com o pobre do seu pai
Destrui o meu direito, nem filho posso ser mais
Voltarei para minha casa, como quem perdeu as asas
Cairei junto ao meu pai
Pois até seu jornaleiro, tem abundância de pão
E não lhe falta dinheiro, rico é o meu irmão
Pai pequei contra Deus, não ouvi os rogos seus
Vim lhe pedir o perdão
E se pôs a caminhar, pois era longa jornada
No sol quente a lhe queimar e na brisa da madrugada
O seu pai não acredita, quando o seu filho grita
É ele lá na estrada
Correndo vai ao encontro, aquele pai sofredor
Com o seu coração pronto, para derramar seu amor
Meu filho que alegria, tu vieste neste dia
Aliviar minha dor
Não sou digno ó pai, de ser chamado teu filho
Veja já não tenho mais, nem um pouco do teu brilho
– Tu estavas perdido, para mim tu tinhas morrido
Te encontrei eis meu filho
Tragam roupas para ele, sandalhas para seus pés
E coloquem nos seus dedos, um dos melhores anéis
Façam tudo com cuidado, preparem um boi cevado
Hoje há festa até nos céus
Vem chegando da lavoura, cansado de trabalhar
O seu irmão mais velho e não quis em casa entrar
Quando ouviu o barulho, encheu-se de orgulho
E não quis se contentar
Trabalhei até aqui, nunca desfrutei de nada
Nunca mataste para mim, uma ovelha desmamada
Parece que me detesta e ainda fazes festa
Para este camarada
Tudo que eu tenho é teu, foi o que o pai respondeu
Teu irmão estava perdido e agora se achou
Para mim não tinha mais jeito,
Morreu dentro do meu peito e Deus o ressuscitou
Entra em minha companhia, veja que tenho razão
Para toda essa alegria, é chegado o teu irmão
Completa este meu gozo, pedia o velho choroso
Dá também o teu perdão
Certamente se abraçaram, completou-se a alegria
E todos juntos gozaram, de uma velha companhia,
O filho pródigo voltou e o pai lhe perdoou
Os males da fantasia.

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