A Maricota Noraldino

A Maricota é uma minera arrelienta
que não aguenta disaforo de ninguém
por qualqué coisa a cabeça dela esquenta
fica quereno dá pancada em alguém.

Outro dia a Maricota ficô braba
tava dançano e pisei no seu dedão
já me chamô de xarope de goiaba
e me acertô um certero pescoção.

Minha zoreia ficô ardeno e tinino
na minha frente enxergava tudo preto
minhas pernas bambiô eu fui caino
na posição chata de catá graveto.

A Maricota esburrachô de dá risada
quando me viu ficá naquela posiçao
veio disposta me deu outra borduada
deu um cascudo e me jogou no chão.

Eu levantei com uma vergonha danada
uma vontade disgranhenta de fugi
a Maricota me deu outra borduada
eu levantava dispois tornava a caí.

Teve uma hora que levantei resolvido
de acabá com aquela confusão
a Maricota me acertô o pé do ovido
que saí correno na base do trupicão.

Fui obrigado a gritá e pedi ajuda
a Maricota tava quase me matano
eu nunca vi uma minera tão forçuda
me deu uma tunda e dispois saiu cantano.

Não deu nem pro chero, molenga de minero
só não te bato mais por que é um molengão
se quisé dançá comigo vai aprendê primero
e nunca mais vai pisá no meu dedão.

o cabôclo poéta do Nhô Noraldino:

Assombração camarada: Noraldino

No tempo que eu namorava
não tinha lonjura pra mim
nenhum perigo me amendrontava
eu ia inté pra lá dos confim.

Andava pelas estradas afora
amassava barro ou levantava puera
sofrimento danado quando a gente namora
os apuro que passei não foi brincadera

Dispois do corguim pra lá da curva da estrada
na sombra gostosa dum pé de ingá
na bera do barrranco tinha uma cruiz infincada
lembrança de alguém que morreu no lugá

Toda veis que eu voltava do namoro
quando me lembro chego inté arrepiá
escuitava um gemido e dispois um choro
naquela hora corria mais que um preá.

Minha butina amarela rangedera
fazia bolha d,água nos carcanhá
aquela assombração me dava a maior cansera
mais memo ansim eu passava por lá.

Dismancha o namoro com a Esmeralda
nem de brincadera eu queria pensá
memo com ajuda do meu anjo da guarda
aquela assombração não parava de me assombrá.

Já tava cansado de tanto corrê
quando passava naquela curva da estrada
certo dia perdi o medo e resolvi sabê
porque chorava aquela alma penada.

A alma chorona então me arrespondeu
essa dor que me maltrata é bem antiga
uma diarréia das braba que me deu
as folhas que usei era dum pé de urtiga.

Sinto o fogo cruel das queimadura
que me esfola num doloroso sapecá
preciso dum remédio para minha cura
eu sofro tanto que nem posso sentá.

Então resolvi dá uma ajuda pra coitada
arrumei folha de inhame,bastante algodão
mingau de maisena em forma de pomada
num pedaço de papel ecrevi uma oração.

A pobre alma ficõ mais aliviada
acabô pra sempre aquele sofrimento
ficô brincalhona queria inté sê convidada
pra festança do meu casamento.

Sai,alma assanhada!

o cabôclo poéta Nhô Noraldino;

volta, Abgail:

Dispois que Abgail foi se embora e me abandonô
acabô toda alegria que existia no sertão
inté os passarinho de tristeza lamentô
quando canta aumenta mais a minha solidão.

Pra onde foi ninguém, sabe ninguém viu
ninguém me deu ao menos uma informação
o retrato dela risonho tamém sumiu
levô tudo que tinha, inté meu coração.

Hoje a sodade me cutuca,me bilisca
não sai do meu peito de manera ninhuma
se alastrô bem fundo igual grama tiririca
tá mais inraizada do que moita de guanxuma.

Se eu tivesse escuitado quando ela me falô
por causa dos baile vancê vai se arrependê
larga mão de jogá bola, deixa de sê pescadô
qualqué dia vô embora e nunca mais vai me vê.

Eu inté dava risada dos coselho da Abgail
pensava que ela queria só me amedrontá
sê jogado prá escanteio,onde já se viu
eu, o mandão das abelhas, não dá nem pra acreditá.

Hoje eu como as grama que o capeta prantô
caí do meu orgulho, pelo chão fui arrastado
Abgail foi-se imbora nunca mais ela voltô
agora vivo triste,sozinho,abandonado.

volta,Abgail.

"Assombração " (Literatura de cordel)

I
Moço! Me presta atenção.
Pois eu digo que neste lugar,
Ninguém viu coisa igual
Sinto meu corpo arrepiar
E Quando me lembro daquilo,
Sinto o sangue congelar.

II
No ponto da avenida cinco
Bem pertinho da Unigal.
Veio a moça me assuntar
Com um corpo artesanal,
Vestida como manequim
Bem provocante e fatal…

III
Bonita que jamais eu vi,
Pedindo uma informação:
– Quantas horas? Por favor.
Disse com educação.
Eu já todo abestalhado.
– Mais de dez horas não são.

IV
– Será que vai demorar?
Ela estava perguntando,
Eu disse que não sabia,
No que ela estava pensando
– Quero saber da lotação.
Disse ela completando.

V
-Deve passar rapidinho.
Afirmei com incerteza,
E continuei a conversa
Querendo com esperteza,
Jogar na menina a prosa
E ganhá-la com presteza.

VI
Ela logo entrou na minha,
Eu fiquei todo aprumado,
Ela rindo divertida
E eu todo excitado,
Já imaginava eu e a guria
Abraçadinhos deitados.

VII
Cada vez mais animado
Enquanto o tempo passava
Já namorava a garota
Na mente maliciosa
Pensava pra onde levar
Aquela mocinha gostosa

VIII
Percebendo o assanhamento,
Que não consegui despistar
Acendeu mais o meu fogo,
Quando a ouvi murmurar
Estou me sentindo carente,
Vamos lá em casa brincar.

IX
Chegou bem perto de mim,
Sussurrou no meu ouvido:
– Vou te matar de prazer
Para sempre ficará comigo,
Ficaremos abraçadinhos
Lá dentro do meu jazigo

X
Estava tão admirado
Que nem prestei atenção.
Cheguei pertinho dela
E puxei a sua mão
Lasquei um beijo de língua
Molhadinho de paixão…

XI
Naquele beijo tarado
Um bafo medonho senti,
Fiquei com náuseas e,
depressa os olhos abri
E aí vi na minha frente
Um horroroso zumbi.

XII
Moço! O rosto lindo que
antes me encantava,
numa horrenda caveira
agora se transformava,
e paralisado de medo
Ali tremendo ficava…

XIII
O frio que eu sentia,
até na minh’alma doía,
E aquela pintura de horror,
De podre tudo fedia,
Com a boca enrugada,
Num esgar de bruxa sorria.

XIV
Enfim chegou a lotação,
No auge da minha agonia,
Desesperado eu gritava,
Mas a porta não abria
Então corri desembestado,
Pra chegar na portaria.

XV
Hoje, moço! Nem por ouro,
Te juro, não faço serão,
Garota sozinha a noite
Nem chego perto mais não,
Me lembro da linda mocinha,
Que virou assombração!!!!!

A FOME NO SERTÃO

A FOME NO SERTÃO.

Tempo abafado,
Estou preocupado.
Nenhuma nuvem no céu,
Temos que usarmos
O sombreiro ou o chapéu.
Aquele típico do tabaréu.
O céu está feito um véu,
A temperatura está nas alturas.
O desconforto se vê no rosto,
E na suadeira do povo na feira.
O suor é sal puro.
Por Deus eu juro,
Daria tudo em troca da chuva.
Para que ela pudesse,
Lavar o nosso chão,
Nos trazendo a farta produção.
Porém não vejo outra solução,
Que é esperar a benção
Ou então morrermos de fome
E sede neste sertão.

(EDILSON LEÃO)

AURORA EM BELÉM DO PARÁ

AURORA LINDA CHAGAS-TE; ACOMPANHANDO-TE A BRISA;
DO ROSTO BELO DO SOL; OS RAIOS A TUDO DÃO VIDA;
AQUECEM OS MUSCULOS FORTES DOS CABLOCOS À AVEMARIA;
NAS TORRES REFLETEM AFÉ, RIQUEZAS QUE PRA TI É;
NOS REMANSOS; NAS MARESIAS; AOS REMOS VEM NAZARÉ;

CARRINHOS DE MÃO, RODILHAS, CAIXAS E TABULEIROS;
NAS PREAMARES DONDE VÊM; SEMPRE DE BARCOS CHEIOS:
ABASTECER OS PEIXEIROS: PINTADOS, TUCUNARÉS ÀS VEZES ATÉ JACARÉ…
NOS PÔPÔPÔS VEM PIADOS; CAIPIRAS, TATUS E COTIAS;
ATRAVESSADORES; MASCASTES E AMBULANTES;
DESCAMA! DESCASCA! DESFOLHA! DESFLORA!
EQUILIBRAM O AMOR DA FAUNA E DA FLORA;

GRITA O CUÍTO! MISTURANDO-SE A CENTENAS DE OUTROS GRITOS;
COM CHEIROS, CROCITOS E TROPÉIS,
DOS PESCADORES NAS BARCAS, ARPÕES, REDES E ESPINHÉIS;
DE FUNDOS, ÂNCORAS, PÔITAS; DERIVAM MEUS PENSAMENTOS;
GUAJARAM NA IMENSIDÃO DA BAIA A ESPERANÇA DO CORAÇÃO;
HISTÓRIAS VÊM ME CONTAR; DEVOTAM-SE AOS HOMENS BENTOS
AS GLÓRIAS DESTE POMAR;
DA BRAVURA DESTE NOBRE POVO; QUE SÃO HOSPEDES DO RIO GUAMÁ;

ACARICIAM-ME OS GALHOS DE TUAS MANGUEIRAS;
DESCANÇAM NAS SOMBRAS DE TEUS SOBRADINHOS;
GENTES DAQUI, DE LÁ, DACOLÁ; JANELAM-SE NOS VEÍCULOS:
POR ÁGUA, POR TERRA E POR AR; ANSEIAM AO ME AVISTAR;
ADMIRADOS QUANDO LHES CONTO:
TODA TARDE AQUI CHOVE; ANTES DO CAFÉ TOMAR.

SOU PARAENSE MORO NO NORTE;
COMO MANGA; XIBÉ, AÇAÍ, PUPUNHA, CUPUAÇÚ E CAJÁ;
EVANGÉLICOS; CATÓLICOS E ESPÍRITAS;
A TODOS SABER AMAR…
COM REZAS; CABLOCOS E BENZEDEIRAS;
NA TELÚRICA DOS ÍNDIOS DESTE LUGAR;
BELÉM ESTÁ SEMPRE DE PORTAS ABERTAS;
AGUARDANDO-TE VIR NOS VISITAR…

MS. e MT.

Sobre minha cabeça o céu celeste forrado de chumaços de algodão.
O sol escarlate como brasa, esquentava como fornalha, e a vegetação rasteira formando um lindo tapete verde, formava o quadro que na mente tenho guardado.
Ouvi um tropel, que mais parecia raios e trovões.
Eram os boiadeiros levando grande boiada para a invernada; por pouco não morri!
Os animais fogosos e suados, dirigiam-se a todo vapor, e os homens que os conduziam estavam fatigados pela jornada e calor; gritavam como que de dor…
Compreendi como é a vida ali, aquele lugar é para quem é de lá; quem quiser ficar lá, terá que mostrar a que veio, montando em um baio cavalo e dirigindo alguns bois…
É não é fácil não, isso não é para mim! Homem da cidade grande, acostumado com bichos mais velozes, porém mais dóceis…
Talvez se fosse para ser patrão… Mas dinheiro não tenho não; preciso é de emprego!
Mesmo se fosse patrão, como iria conduzir o pelotão, se de boi não entendo nada, só de carne de vitela mal passada.
É tive que dar as costas e voltar, apesar do lugar ser lindo; natureza farta, clima quente, rio fremente, e o cantar da passarinhada…
Tive que voltar!
Para nós é lugar de recreação; já para os moradores de MS. e MT., lá nisso são bons!…

(PEREZ SEREZEIRO)
José R.P.Monteiro –
SCSul SP [email protected] [email protected]