A vida entre quatro paredes
é papel.
É papel que não se desfaz
molhado em água.
É preciso afogar-se em ácido
para mudar de cor.
É camaleão natural,
pré-histórico, selvagem
É agudo, obtuso
É direto
Esse viver indiscreto,
insuportável, audaz
De quem sonha e quer mais.
A vida entre papéis
é concreto.
É concreto tão leve
que leva a gente
por esse mundo.
Mundo tão cheio
tão redondo, esférico.
Sou quem sente
Sou o que sinto
Mas o cinto aperta-me
E o vômito não vem.
Enrosco-me num mundo profundo
Só
Choro
Sinto anonimamente o que vai em mim
Porquanto só o indesejável
tem crédito
e o crédito
não é o que se quer.
O meu papel é viver
Sonhar
E eu sou o sonho
Eu vivo
Não vivo para o pré-histórico
Camaleão
Sou atual
Não sou dinossauro
Neste papel nada é você
Consegue-se o indesejável:
Ficar só.