Esta poesia foi escrita pelo meu grande e único amigo, meu pai, que hoje não mais compartilho da presença
Velha mangueira,
Que bom te ver de novo !
Quando eu era pequeno meu pai pela mão me trouxe
E pela mão aqui eu também te trouxe
Éramos os dois frágeis e jovens.
Com dificuldade sulquei a terra
E com cuidado te plantei.
Sentiste o calor do sol. Quase morreste !!
Abriguei- te ao que pude. Matei tua sede.
Removi a relva que te afogava.
Depressa crescestes
E eu, ainda criança,
Vinha, a ti, contar minhas alegrias,
Vinha contar, a ti, as minhas mágoas.
Cresci.
Busquei a tua sombra amiga,
Descansei nela a fadiga.
Vi tuas primeiras flores, comi teus primeiros frutos.
Voltei depois. Chorei contigo a dor do meu luto
Quando minha mãe morreu.
Tu estavas quieta ; entristecida ;
Sentias , talvez, a mesma dor que eu.
O frio do inverno queimou tuas folhas,
O calor do sol partiu teu lenho,
O vento forte torceu teus galhos,
A ação do tempo branqueou meus cabelos
E sulcou com rugas a minha face.
Velha mangueira,
Chamam-te centenária.
Não ligues – é brincadeira,
Pois és muito mais jovem do que eu.