Ninguém era mais amigo
do que o Zé e o Chicão
Nunca tiveram na vida
desavença ou discussão
E se davam a fiança
que se dá a um irmão
Amizade aqueles dois
tinham desde a infância
e só eles calculavam
toda sua importância
com a dor compartilhada
e a saudade na distância
Mas um dia o Chicão
fez ao Zé uma proposta
de pescarem um jaú
pra ser cortado em posta
Na casa do seu amigo
a idéia foi exposta
– Dou a linha e o anzol
e até o minhocuçu
O barco vou emprestar
e a vara de bambu
Tenho tudo que é preciso
pra pescar esse jaú
O Zé se comprometeu
em fazer a pescaria
Um jaú de vinte quilos
foi pescado nesse dia
Mas por pouco tempo foi
que durou sua alegria
O problema aconteceu
na hora da divisão
Começou uma disputa
entre o Zé e o Chicão
pra saber quem merecia
levar o melhor quinhão
O Chicão falava ao Zé
conforme seu argumento
que a maior parte cabia
ao dono do equipamento
compensando o que gastou
com o seu investimento
O Zé porém defendia
toda a sua experiência
dizendo que a pescaria
era arte e ciência
não podendo a ninguém
ensinar a paciência
A partilha do jaú
já estava nesse pé
sem ter um ajustamento
entre o Chicão e o Zé
para a amizade ver
o egoísmo dar a ré
Mas passava por ali
um vizinho do Chicão
que ia pra sua casa
e ouvindo a discussão
na hora se ofereceu
para dar a solução
– Um jaú bem preparado
minha esposa também gosta
Se me derem um pedaço
do peixe cortado em posta
garanto que o problema
vai ter a melhor resposta
Os amigos aceitando
pra por um fim no dilema
escutaram do vizinho
a solução do problema
pois enxergava de fora
plenamente o sistema
– Primeiro digo ao Chicão
desta lição não esqueça
Pela pesca do jaú
ao amigo agradeça
Por ser o dono do barco
vai ficar com a cabeça
Agora explicando ao Zé
o dilema já acabo
Para comer com arroz,
ovo frito e quiabo
por pescar esse jaú
vai ficar é com o rabo
Eu fico com o restante
que ao dilema dei um fim
Encontrei os dois falando
um em grego outro em latim
E qual é a amizade
que vai resistir assim?
Ninguém vai querer pra si
amizade que não serve
É a faca que não talha
É chaleira que não ferve
É viola sem as cordas
É um poeta sem verve
E o vizinho cortando
o peixe em cima da mesa
saiu da presença deles
que olhavam com surpresa
mas deixando a solução
do problema com certeza
E foi assim que os dois
tanto Zé quanto Chicão
reconhecendo seu erro
aprenderam a lição
que sem o seu egoísmo
era outra a divisão