Podes guardar o pão
para muitos dias,
ainda que o excesso
de tua casa
signifique ausência do essencial
entre os próprios vizinhos;
todavia, quanto puderes,
alonga a migalha de alimento
aos que fitam debalde
o fogão sem lume.
Podes conservar armários
repletos de veste inútil,
ainda que a traça
concorra contigo à posse
do pano devido
aos que se cobrem
de andrajos;
no entanto, sempre que possas,
cede a migalha de roupa
ao companheiro que sente frio.
Podes trazer bolsa farta,
ainda que o dinheiro supérfluo
te imponha
problemas e inquietações;
contudo,
quanto puderes,
oferece a migalha de recurso
aos irmãos
em necessidade.
Podes alinhar
perfumes e adornos
para uso à vontade,
ainda que pagues caro
a hora do abuso;
mas, sempre que possas,
estende a migalha de remédio
aos doentes
em abandono.
Um dia,
que será certo em tua vida,
deixarás pratos cheios
e móveis abarrotados,
cofres e enfeites,
para a travessia
do novo caminho…
… Entretanto,
não caminharás perdido
na noite sem estrelas
porque as migalhas de amor
que tiveres distribuído
estarão multiplicadas
como bênçãos
e tochas de luz
em tuas mãos.