Da porta de vidro deste quarto
Vejo um céu nebuloso.
Mais próximo à porta, está mais escuro.
Porém mais além, está mais claro,
E quanto mais se afasta
Mais claro é…
As árvores fazem parte do cenário.
Casas e prédios com suas lâmpadas acesas
Fazem parte também…
Até uma escola e um centro esportivo,
Nesse quadro, também estão presentes.
O som das pessoas indo e vindo
Chegam aos ouvidos.
O som dos veículos automotores
São marcantes. Alguns,
Com seus escapes abertos
Gritam feitos doentes
Que sentem muita dor…
Alguns, deixam escapar suas músicas;
Parecendo salões de baile ambulantes.
Crianças, adolescentes gritam,
Brincam e se chingam…
Tudo isso entra pela porta de vidro.
Até o latido estridente de vários cães
Que na vizinhança há.
Isso tudo no dia a dia e mais
O cochiço da proprietária;
Pois a casa é aluga (por sinal bem cara);
Que sugere, deixa no ar,
Indagações destrutivas, além de observações;
Ou melhor, de vigiar nossas ações,
No que diz respeito a energia elétrica;
Pois é um só relógio de luz para os dois;
Me deprime, me irrita, entedia-me…
Nesse strees, que é olhar pela porta de vidro,
E o que vejo me entristece;
O inverso me agrada, vendo antes do quadro.
Nesse meu olhar, vejo que a noite se avizinha
E que o dia se finda…
Isso indica que ela está chegando.
Que é a hora da minha rainha regressar ao lar.
Vejo a tv, que passa não sei o que.
Vejo a cortina branca; a pequenina janela,
Coberta por uma coberta.
Vejo as paredes, que eram brancas,
Que hoje se tornaram marrom, pela infiltração.
Ao meu lado vejo um berço; ele está vazio,
Ali dorme nossa herança (Juan),
Que nesse momento em nossa cama se encontra.
Estamos em nosso ninho, nele, ele foi concebido.
Estou velando seu sono.
Para sair por algum motivo,
Penso duas vezes.
Tenho receio que ele se vire
E caia da cama. Nessa cama ele nasceu…
Concebido foi em outra; no mesmo quintal,
Que hoje me fadiga…
Nesse meu olhar pela porta de vidro,
Percebo que nesse quadro
Posso ver o belo;
Olhando não para a pintura externa,
Mas sim, a interna…
É só ignorar o que está
Além da porta de vidro
E observar o que está antes!
Porque o que está lá fora
Não tem nada a ver comigo,
Não me pertence, é de outros.
Porém o que está antes, aqui dentro,
Na verdade, é toda a minha vida,
É a razão pela qual existo
E agüento o que lá fora vejo
E me entristece!
Minha dívida de gratidão
Com esses dois personagens desse quadro,
É suportar tudo e todos
Acreditando que no amanhã do amanhã,
Eu venha a ter na minha frente
Outra porta de vidro
Onde não mais verei lamúrias,
Fatos e coisas que me entristece,
Mas que eu veja
Os meus tesouros rindo e brincando,
Saboreando o melhor da vida
E deste quadro, agora imaginado,
Não farei parte como um simples contemplador,
Mas serei mais um personagem deste quadro;
Visto da porta de vidro do amanhã, no amanhã!…
(PEREZ SEREZEIRO)
José R.P.Monteiro – SCSul SP [email protected] [email protected]