CRÔNICA
Crianças, apesar de minhas crenças
Um homem foi morto na cadeira do bar ao lado de uma criança!
Se mata um pai ao lado do filho?
É claro que não se mata ninguém, ainda mais ao lado de um filho.
Neste caso, no entanto, me parece pior.
Um homem foi morto na cadeira do bar ao lado de seu filho!
Que tipo de homem mata um pai ao lado de seu filho?
Será que é do tipo que nunca terá um filho?
Se não fossem as minhas crenças, diria que é do tipo de homem que nunca foi um filho.
Diria que é do tipo de homem que nunca foi criança.
Mas isto não é possível!
Um homem tem que ter sido uma criança!
Dizem que as tais distorções sociais explicam tudo.
As crianças podem se tornar homens vis, fúteis, medíocres, vingativos e assassinos.
Não acredito! As crianças não!
Talvez as crianças nunca cresçam!
Talvez este tipo de homem simplesmente apareça do nada e mate.
Talvez este tipo de homem seja tão indigno que não tenha sido criança.
Se não fossem minhas crenças, diria que é impossível associar este homem com uma criança.
E com as minhas crenças, tenho muito medo de concluir, admitir e acreditar que esta metamorfose pode acontecer.
Tenho muito medo em constatar que esta transformação é rotineira.
Se não fossem as minhas crenças, preferiria acreditar que o assassino que surgiu do nada.
Que nunca foi criança, pai ou filho.
Que por instinto ou destino.
Por ser fútil, medíocre, vingativo e cretino.
Matou sem motivo uma criança que estava sentada na cadeira do bar ao lado do