Romance do poeta
O jardim se vestia do sol que o queimava brandamente,
mesmo assim o jardim cantarolava,
através de uma fonte
que vertia água prateada, cristalina.
Mas prostrado num banco, num canto do jardim,
o poeta cantava com tanta tristeza,
que quem o canto escutava,
achava e dizia que o poeta e a fonte do jardim chorava.
O choro era por alguém que não voltava,
enquanto durasse o dia, sua ausência duraria…
É por esta pessoa amada que chora o poeta e a fonte.
E o jardim que se vestia do calor do sol,
logo se despiria, com a chegada da noite,
e a noite envolvia o jardim,
como um rei veste uma escrava,
logo a lua despontaria, logo na fonte se veria,
o corpo de prata na água fria.
E enquanto não vinha o dia,
à fonte que retratava a lua,
dizia e cantava que nunca mais a deixaria,
mas o canto era mais um choro de lamento,
que se o dia despertava a lua não mais veria…
Era por isso que a fonte chorava!
Fonte de melancolia,
que com tanto amor amava,
que nunca feliz completamente estava,
chorava quando era dia,
e se era noite lamentava e murmurava.
Mas no choro que fazia,
com tal beleza chorava,
que quem o choro escutava,
dizia que a fonte não chorava,
antes que a fonte cantava.
Assim também chora o poeta
por sua amada dia e noite!
Eliezer Lemos