Se eu fosse falar, mas não posso,
Aliás, nem sentir o que teimo sentir.
Meus dedos deslizam e se agarram
A esta caneta na mesa.
O papel já está ao lado, até parece
Que o garçom deixou-a propositadamente.
Não sou eu quem fala.
Não é a voz da razão!
É o desatino menino deste ser
Que teimou crescer.
Mas como diz o adágio popular:
Há razões que a própria razão desconhece.
Há um ser dentro em mim, que sente o que ninguém pode crer,
Que está preso e ninguém quer saber.
Quando penso nisto quero fugir: Mas prá onde?
Onde poderia eu me esconder de mim mesmo?
Engolfando meus sentimentos no novo vinho velho
Desta cantina agora nova, repintada e sóbria?
Talvez nas viagens do veneno verde…
Planeta água, planeta terra,
Planeta azul mata e serra.
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Vejo a vida se esvair e eu
Meditando, escrevendo.
Enquanto estou aqui, ali ao lado
Dois seres sorrindo abraçados.
Planos de vida a dois. Felizes!
Olhando o futuro com olhos de quem está livre para crer.
Às vezes me dá vontade de gritar,
Avisar a todos que estão adormecidos para a vida.
Descrentes sempre, como eu apenas agora,
E nos “de vez em quando da vida”.
Que a tempo de chorar, tempo de sorrir,
Tempo de amar, tempo de ser feliz,
Tempo de calar, tempo de morrer.
Tempo para todo propósito!
Mas de que me adianta gritar?
Quem se importaria com um simples coração moreno?
Quem olharia no fundo destes olhos,
Cansados, aprofundados de tanto olhar,
Olhar e ainda encontrar motivos para crer
A tal ponto de desabafar?
Às vezes palhaço de todos! Pintado de alegria.
Mas quem não o é às vezes?
Quem não está às vezes, e como são às vezes,
Fantasiado de uma frieza especial.
Passos firmes, de força e de vigor.
Espetáculo de todos.
Sim há um motivo para nos encorajarmos
E nos defrontarmos frente a frente com nossas forças sim,
Mas com nossas fraquezas também. Com nosso verdadeiro ser.
É bem aqui neste lugar, talvez nem tão próprio,
Que eu quero desabafar, como sempre o fiz em qualquer lugar.
O disco está tocando e eu sussurrando,
Suplico ao Senhor, proteção.
Não é ao homem que peço, oh criador do universo.
E neste meu segregar cenho confessar,
Que nos víveres desta vida pregressa
Tudo o que busquei encontrar.
Nos romances vazios, nos vícios, nos sonhos, fracassei…
Mas agora junto a ti Senhor,
Cruzando minha etapa final, no rio desta vida
Humana passageira,
Já sentindo o limiar de uma nova aurora
Avisto o horizonte além do rio, choro e oro:
– Dá-me paz. Paz de tua salvação
Para que não me sinta tão só
Neste meu tempo de calar e chorar…
Quero me sentir tão próximo de ti
Como se já estivesse aí.
Dá-me um pouco de alento!
Sei que de ti nada mereço
Mas em tua palavra me sustento
E suplico em meu intento: Guarda minha alma em paz!
E de “lambuja”, porque sou gaúcho, suplico:
– Não dê lágrimas a ninguém, em minha partida,
Enche cada lábio de belo sorriso
E que pelo exemplo de meu ser efêmero digam:
– Foi para estar com Deus!
E se tal pobre pecador, tão fraco e infeliz aqui foi,
Hoje desfruta o paraíso,
Que diremos nós?
Também ao fim do rio chegaremos!
Josias Souza (Jô)
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