Vende-se um sítio

Quando Olavo Brás Bilac
naquele tempo passado
já era em nosso país
um poeta renomado
por amigo certo dia
na rua foi abordado:

– Você que sempre visita
a minha casa rural
que eu preciso vender
por motivo capital
poderia redigir
o anúncio do jornal?

Aceitando o pedido
com disposição completa
ele pegou o papel
pensando na sua meta
e redigiu o anúncio
no seu jeito de poeta:

Vende-se um lindo sítio
afastado da cidade
onde você vai gozar
descanso e felicidade
que só preciso vender
por muita necessidade

Sua casa proporciona
um conforto permanente
É pela manhã banhada
nos raios do sol nascente
A varanda tem à tarde
uma sombra envolvente

Tem pomar que o ano todo
é o salão onde as aves
executam seus gorjeios
em sinfonias suaves
e as falenas no canteiro
adejam entre as agaves

Tem no silêncio da noite
lua mostrando recato
quando a brisa deleitosa
embala as plantas do mato
e você dorme escutando
o acalanto de um regato

E o poeta entregou
o anúncio a seu amigo
com aquela cortesia
que havia no tempo antigo
pra publicar no jornal
ao lado de algum artigo

E passado algum tempo
se encontraram novamente
e o poeta perguntou
ao amigo de repente
se tinha vendido o sítio
no valor correspondente

– Nem estou pensando nisso
pra não ter um prejuízo!
Quando li aquele anúncio
tão bonito e preciso
desisti na mesma hora
de vender meu paraíso!

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