Por muito tempo
Cultuei um dom
De enxergar
Alem da imagem.
De ver
Os defeitos, mais entranhados.
As taras,
As manias,
O fel,
O amargo de tudo e de todos,
O lado negro
Da verdade.
Por muito tempo
Cultuei esse dom.
Que entendia um valor especial,
E um dia surpreso
Vi-me no espelho
E percebi atônito
Que minha sabedoria
Tinha como fonte única
Meu negro e estúpido ser
Que por várias vidas
Perseguiu o feio
O cruel, marginal e hipócrita.
Sem a verdade e o belo
Sequer
Notar.