Já faz algum tempo que me mudei para este condomínio. No início você não me interessava, me encantavam as flores no jardim do primeiro andar, o viciante aroma das manhãs em que eu me sentava no hall em concentração plena e ociosa… Dias que eu pude desperdiçar em tola contemplação.
Benditos sejam os encontros ao acaso! Minha tranquilidade nas manhãs perfumadas tiveram súbitamente seu lugar tomado pelo seu perfume, quão injusta a sentença, me fora imposto o fardo de, á partir daquele momento querer-te, me viciei em alguém cuja existência nada me importava! Absurdo…
Em quieta reflexão sobre o que acabara de acontecer, encontrei-me viajando novamente, seria ótimo se, eu não estivesse desejando sua companhia á todo momento, balbuciando preces tão lindas só de pensar no toque da noite passada…
Você sabia, de tudo, de alguma forma se convenceu de que com as suas maneiras iria me conquistar, como já fizera com muitos outros. Mas algo a perturbava, olhava-se no espelho se convencendo de que aquilo não era um sentimento, de que amava outro. Procurou se enganar tanto assim quanto ao próprio coração, quanto mais eu me ajoelhava, mais a ilusão de vitória por esse lado vibrava.
Ambos sabemos de que nos amamos, um dia se Deus quiser isso tudo será uma bobagem esquecida e remediada com o tempo, tenha certeza de que ele não quer…
Sou o seu maldito vizinho, você sabe que, ao olhar pela janela eu estarei no meu apartamento torcendo para te ver,e trocar conversas durante horas.
Sabe que estarei na sua porta, te escrevendo poemas os quais você finge ler, contente por não entender metade do que está escrito, mas por saber que fui eu quem escrevi.
Sabe que quando eu precisar irei ao seu apartamento te pedir uma chícara de paixão para remediar o meu sossego.
Sabe o que quer, mas se recusa á dizer por mil razões sem sentido justificando sua insensatez quando é citado meu nome.
Sabe o que tem de saber, viaja no meu aroma desejando como resposta á um: ´´eu te amo´´…
– ´´também amo você´´.