Um homem, com um estranho hábito de enviar cartas pelo correio, há muito se interessava por uma das funcionárias do local. Conheceram-se numa ocasião em que ele necessitava de uma caneta, pois a sua estava falhando. A princípio conversavam sobre diferentes assuntos e, com o passar do tempo, a afinidade tornou-se cada vez mais evidente.
Havia somente dois problemas: um deles era o gênio da menina. Em determinados dias ela não só lhe negava atenção como também o tratava como um moleque atrevido. O outro era uma reluzente aliança na mão direita dela. Já estava noiva há quatro anos e pretendia casar-se dali a um.
Seu desejo era tê-la para si, mas não sabia como superar esses dois obstáculos. Demonstrava grande afeto diariamente, era cordial, gentil, porém nunca tentou carícias mais ousadas. Temia que a amiga o lembrasse do compromisso, o que resultaria numa separação definitiva. No seu interior, acreditava que ela também sentia algo por ele e tal suspeita era, por vezes, provada na retribuição dos carinhos e palavras amigas.
Um dia, cansado dessa situação, ouviu-a conversar com o noivo ao telefone. Escutou cada palavra e materializou em sua mente diversas cenas felizes de amor entre os dois. Percebeu que estava interferindo na vida de um casal feliz. Decidiu afastar-se dela sem dar satisfações, corrido de ciúme. Voltou outras vezes, mas tratou-a com frieza. A princípio ela ficou confusa e estranhou o cessar dos carinhos. Chegou a agir como se suplicasse para que a rotina voltasse. Foi ignorada, até que desistiu.
Assim passaram algumas semanas. Um sendo o mais racional possível e a outra, entre grosserias, agindo como se estivesse aflita por não ter mais aquele calor. Um dia, ele notou que ela não usava mais o ornamento no dedo anelar. Ficou empolgado a princípio. Aquela era a chance com que ele tanto sonhou! Quis deixar tudo para trás, voltar a ser gentil, perguntar o motivo da ausência do sinal de matrimônio.
Eufórico, decidiu averiguar, mas foi tomado por receio: “e se ela usar grande indelicadeza para revelar-me o ocorrido?”, pensou, afinal, ela não tinha obrigação de usar nada. Poderia se valer de seu livre arbítrio. Um questionamento invasivo como esse poderia gerar revolta e maus tratos. Passou uma semana com essa indecisão: perguntar ou não perguntar?
Na semana seguinte, criou coragem. Numa manhã de segunda feira, quando ela estava arrumando uma papelada referente ao trabalho, aproximou-se e questionou. Ouviu apenas “foi pro poço”. Quando detalhes foram solicitados, um olhar, emissário de uma indelicadeza foi obtido como resposta. Embora houvesse grande vazio naquelas palavras, fora-lhe o suficiente para imaginar um romance feliz ao lado da moça.
E pensava nos passeios, visitas ao museu, viagens à praia! Ah! A vida era bela e o céu era azul! Ela estava livre do troglodita com quem noivara e livre para um homem que realmente a amaria. Voltou para casa pulando e fazendo passos de dança sempre que oportunos.
“Mas e se tiver sido ela a responsável pela separação?!”, indagou-se. Briguenta e inconseqüente como era, provavelmente fizera algo horrível para o pobre rapaz que só a amou. Com ele não seria diferente! Por que repetir o erro? Há tantas mulheres neste mundo! Certamente, ele poderia procurar por outra pessoa especial.
Só então cogitou que ela talvez estivesse ferida e decepcionada. Alguém precisaria consolá-la! Colocá-la nos braços, ouvir seu choro, dar-lhe conselhos, ressaltar sua beleza! Ninguém mais qualificado que ele, que tanto a idolatrava. Sugeriria que começassem tudo do zero, como da primeira vez em que se apaixonaram na vida.
E se ela ainda o amasse?! E se ele demorasse demais para tomar uma atitude? Tão possível era que os dois esquecessem um desentendimento bobo e redescobrissem o quanto se queriam! Algo precisava ser feito! Com tantas possibilidades o esmagando, qual seria a melhor forma de agir?!
Naquela terça feira, criou coragem para confessar seus sentimentos. Encontrou outra garota em seu lugar. Esta lhe disse que ela mudara de unidade e agora estava trabalhando numa mais próxima do apartamento em que residia. O homem ficou decepcionado. Cabisbaixo, saiu questionando a própria sorte. Talvez tudo fosse diferente se ele revelasse o que sentia mais cedo. Uma nova esperança o dominou: voltou às pressas para o correio. Ao chegar lá, perguntou para a nova funcionária: “e qual é o endereço desta outra unidade?”
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