Parti,
Pois já não havia mais razão para ficar,
Os parcos carinhos, escassos de amor,
Não acendiam a centelha da velha paixão,
Jaziam secos, os lençóis, sem nosso suor.
Deixei os melhores anos e os piores também,
Esquecidos, a margem do nosso caminho,
Vou perdido por ermos atalhos, marginal destino
E, mendigando a vida seguirei sozinho.
Deixei para trás todas as minhas coisas,
Não seriam as mesmas coisas noutro lugar,
Trouxe somente o que ficou na memória
Se sofria partindo, sofria mais por ficar.
Sei que a suave fragrância de erva-doce,
Assombrará muitas das minhas noites insones,
Desdito num quarto, vazio da sua presença,
E na dúvida infiel do ciúme que consome.
Não mais estaremos juntos nas claras manhãs,
Sentindo a leve essência das flores de laranjeira,
Perfumando nosso quarto dardejado pelo sol,
Misturando em nossa nudez a fragrância ligeira.
Não posso mais olhar para trás, vou-me embora,
Não cabe perdão, pois, nem culpa tem mais sentido,
E nem mesmo as palavras formando amiúdes,
Os vazios do silêncio em monólogo contido.
Parti,
Pois nem mesmo para o pranto havia vontade,
Para pedir as mil desculpas faltava a coragem,
Nada levo, tudo aqui seria amuleto da saudade
Por isso parti levando o sofrimento na bagagem.