Mais que um eco
Não falo das torres altas, das torres cheias de grades
isoladas nas alturas, olhando tudo distante,
sem a exuberância, sem os detalhes insignificantes
que são as grandezas trágicas da vida…
Não estou longe, não sou reflexo, não sou um simples eco,
não sou um som perdido que ninguém sabe a origem…
Sou a boca que grita, a boca que pronuncia o som,
a mão que se eleva, não o gesto irreconhecível,
o coração que bate, não a pulsação anônima,
a alma que luta, não o espírito que se acovardou
num canto introvertido…
Não falo do meu quarto fechado onde me tranquei
a sete chaves
para não ouvir a algazarra dos tempos
e a agitação das ruas,
nem receio descer os degraus que me levam a multidão
porque em verdade a nossa revolta não tem degraus!
Não temo as suas explosões porque seus estilhaços
nunca me ferirão
nem atingirão nunca os que tiverem coragem de ser justos
e os que não se atropelam com a própria consciência…
Falo nas ruas, nas praças, estou perdido no meio da multidão,
não tenho medo porque sou ela e porque ela está em mim,
seu corpo fala pela minha voz na hora da compreensão
sinto a responsabilidade de falar em nome de seu destino…
Não me fechei na torre alta, isolado e indiferente,
meus pés estão no chão
sei que todas as torres altas, ante a avalanche dos tempos
se destruirão…
Eliezer Lemos