Beijo de amor
Beijo de amor, como uma ave
que em cujas asas crespas
o espírito se eleva as paragens etéreas;
com uma nervosa e zumbidora vespa,
que infiltra nas artérias da volúpia,
o orgíaco veneno; com um som festivo
que se assemelha ao mesmo tempo
gargalhada e gemido tremulo.
Beijo de amor, como uma flor da luxúria
que vem plantar no solo da alma
o licor que se contém da boca na ânfora coralina,
espiritual carinho;
como uma bala rubra que espoca nos lábios,
sonora a frase que vem narrar o amor como áureo poema,
que somente entende o ente que ama.
Beijo de amor, suprema delícia,
original pomo da árvore da alma,
cujo galho, a subir, vai pender sobre os lábios;
pomo que ora excita,
e que ora acalma algo grande dentro de nós,
mas que se ateia ao mínimo contato febril
do lábio amado e amante;
das ânsias a fogueira, e dos beijos o ruído
posso julgar o crepitar dessa fogueira extenuante.
Beijo de amor, remédio,
para os males da ausência,
melhora o paladar, um elixir delicioso,
astro canoro que ao som aponta
um caminho no horizonte, acaba com as anciãs.
Beijo de amor, matrimônio dos lábios,
concubinato das almas!
Eliezer Lemos