Inocência do poeta

O poeta não tem fronteira, raça ou cor;
desprovidos de ganâncias, e maldades elementares,
não compreendem a razão dos voluptuosos,
e daqueles que dançam nas sombras úmidas.

As casas dos poetas são simples, de adobe,
dormem debaixo de cardos,
canaviais que estalam e se derretem em pingos de mel,
perto, mas mesmo assim distante de toda confusão,
em sua constante solidão.

Surdos aos martelos dos grandes estaleiros,
aos silvos de turbinas; cegos às torres dos altos-fornos,
ao fumo constante de todas as chaminés;
absorvem constantemente o silêncio silvestre,
no tempo e espaço.

Os poetas não vêem estas bocas que se alimentam de homens,
não se debruçam invejosos das riquezas dos trágicos bárbaros,
que com seu sangue mestiço crepitam fogos de queimadas,
em juizes, tribunais, leis, bolsas, congressos, escolas, bibliotecas,
tudo se estilhaça em clarões, de repente,
nas suas ações como pesadelos irremediáveis.

Os poetas têm mãos sujas de terra, de seiva e de limo,
como as mãos da criação;
é com seus pés que fecundarão os desertos,
os seus olhos como luz boreal, encharcarão tudo de luz.

O poeta é ágil e inocente,
inocência para adivinhar seus prodígios;
a alegria será a sua sabedoria,
a liberdade será a sua sabedoria,
e a sua poesia será o vagido
da sua própria substância,
substância lírica e numerosa.
Nem mesmo a morte arrancará sua energia submissa,
o seu molde com suas formas: inocentes sim,
mas seus corpos é como que fundido em cobre,
ferro, ouro ou prata.

Os poetas sem alarido, ajudarão a natureza
a se refazer na sua ordem, de sua destruição.

Eliezer Lemos

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